Américo Marques Ferreira
NO PRINCÍPIO ERA O VERBO...
Como não sabia falar, me comunicava através de expressões corporais.
Instintivamente, percebi que poderia dizer não meneando minha cabeça de um lado para o outro.
Outras vezes, com um sorriso, descobri que podia ganhar um carinho.
E os primeiros verbos eram todos ligados à minha subsistência (comer, dormir, chorar, regurgitar)
À medida que fui crescendo, ampliei meu repertório com verbos de ação: engatinhar, andar, tropeçar, cair, levantar.
Mas a fase mais gostosa foi quando comecei a conjugar o verbo brincar.
NAVEGAR É PRECISO...
Na primeira infância, a mais rica fase de explorações.
Em meu entorno, um mundo a ser descoberto.
E o método disponível era o ensaio e erro.
E a aprendizagem brotava do ócio criativo de maneira lúdica e descontraída.
Não era necessário estudar pra prova, pois a evolução se media diariamente.
ESCOLA FORMAL versos ESCOLA DA VIDA
Descobri muito cedo que, na fase anterior, a escola da vida, não há férias, nem diplomas.
Mas ao ser matriculado na escola formal, o ensino, na maioria das vezes, se dá na base da “decoreba” do fato/data/nome.
É ai que se aprende que a vida é uma grande competição e que cada colega, ao invés de amigo, é um concorrente a ser vencido.
Nesta fase, surgem os apelidos, as brincadeiras de mau gosto e a prática do bullyng.
ANGÚSTIA É PRERROGATIVA DE QUEM TEM OPÇÃO
Na adolescência, o processo decisório deixa de ser dicotômico (bom/mau, branco/preto, bonito/feio)
E surgem as dúvidas sobre quem sou eu, por que estou aqui, pra onde vou?
E descobrimos que crescer, dói.
Sair da confortável cadeira da infância em direção à cadeira da maturidade passa por sentar no meio de ambas.
Quando se pretende mostrar-se maduro, nos dizem: saí pra lá pirralho... Outras vezes quando apelamos para o álibi de um comportamento infantil, nos dizem: você já é grandinho...
Não é à toa que denominam esta fase de “aborrescência”.
TREINO É TREINO, JOGO É JOGO...
De repente, tudo que fizemos nas fases anteriores, é posto à prova.
E nos sentimos, a cada momento, como se estivéssemos com uma espada pendurada por um fio em cima de nossa cabeça.
Nesta etapa descobrimos que vivemos numa sociedade credencialista que classifica as pessoas por critérios superficiais sobre o que significa sucesso.
Muitas pessoas se sentem como numa maratona tentando alcançar a linha do horizonte.
Outras, como se tivessem enxugando gelo numa vida rotineira e enfadonha.
MATURIDADE.
Nesta fase da vida, é de se esperar que tenhamos aprendido a praticar o altruísmo maduro, ao invés do egoísmo infantil.
A começar pelo casamento, onde descobrimos que dividir muitas vezes significa multiplicar.
E quando nascem os filhos, aprendemos que menos pode resultar em mais.
E o sentimento de realização está ligado mais à vertente do ser do que o ter.
E também nos desprendemos da necessidade obsessiva da aprovação alheia, transcendendo o apoio ambiental para o auto apoio.
VELHICE
Encerro esta reflexão com uma realista metáfora sobre o ocaso da vida, escrita por Salomão no livro de ECLESIASTES, capítulo 12.
Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer;
Antes que se escureçam o sol, a lua e as estrelas do esplendor da tua vida, e tornem a vir as nuvens depois do aguaceiro;
No dia em que tremerem os guardas da casa, os teus braços, e se curvarem os homens outrora fortes, as tuas pernas, e cessarem os teus moedores da boca, por já serem poucos, e se escurecerem os teus olhos nas janelas;
E os teus lábios, quais portas da rua, se fecharem; no dia em que não puderes falar em alta voz, te levantares à voz das aves, e todas as harmonias, filhas da música, te diminuírem;
Como também quando temeres o que é alto, e te espantares no caminho, e te embranqueceres, como floresce a amendoeira, e o gafanhoto te for um peso, e te perecer o apetite; porque vais à casa eterna, e os pranteadores andem rodeando pela praça;
Antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço,
E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.
Vaidade de vaidade, diz o Pregador, tudo é vaidade.
01 de janeiro de 2016
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